CACIQUES POLÍTICOS DO AMAZONAS 58 ANOS

UMA HISTÓRIA DE 58 ANOS DE BRIGAS, ACORDOS E PODER NO AMAZONAS

A grande família nasce em 1954, com a eleição de Plínio Coelho para o Governo do Amazonas, colocando fim em  24 anos de poder do grande cacique Álvaro Maia que mandou no Estado desde 1930.

Elegeu os dois senadores – Cunha Melo e Antóvila Mourão Vieira – e o apoio da empresa de comunicação Archer Pinto – O JORNAL e DIÁRIO DA TARDE – foi fundamental. Eram os dois principais jornais da cidade de Manaus, comandados por Agnaldo Archer Pinto, casado com D. Lourdes Archer Pinto, irmã de Roberto Cohen Plínio Coelho assumiu o compromisso com Agnaldo de na sua sucessão apoiar para o Governo Edson Stanislau Afonso, deputado estadual e presidente da Assembleia ou o senador Antóvila. E de nomear Roberto Cohen no cargo mais importante do secretariado da época, o de representante do Amazonas no Rio de Janeiro, que era a capital da República.

Empossado, nomeou Roberto Cohen como representante no Rio de Janeiro. Nomeou Secretário de Fazenda o então Fiscal de Consumo do Ministério da Fazenda, Gilberto Mestrinho. Mais a frente nomeou Gilberto como Prefeito de Manaus (os prefeitos de capital eram nomeados).

Na sequencia morreram subitamente Edson Stanislau Afonso e Agnaldo Archer Pinto. Roberto Cohen era testemunha do compromisso de Plínio com Agnaldo e havia sobrado somente a alternativa Antóvila para ser o candidato em 58 à sucessão de Plínio.

O senador Antóvila, no entanto, queria continuar sendo senador. Não se empolgava pelo cargo de governador. Gostava do Rio, da boemia e do Jockey Clube. Várias vezes Plínio foi ao Rio de Janeiro conversar sobre o assunto e ele desviava.

Certo dia Roberto Cohen, a única testemunha viva do acordo entre Plínio e seu falecido cunhado Agnaldo, disse ao governador que não adiantava insistir com Antóvila, pois ele não queria ser governador. E sugeriu que Plínio indicasse o prefeito de Manaus, Gilberto Mestrinho, como candidato.

Plínio voltou a Manaus e começou a trabalhar essa hipótese que se consolidou mais a frente. Contra tudo e contra todos em 1958 elegeu Gilberto governador.

Em 1959, Gilberto assume, mas Plínio ocupava sala no Palácio Rio Negro, onde dava expediente e recebia pessoas passando a imagem de que era ele quem continuava mandando. Isso incomodava Gilberto que o nomeou prefeito de Manaus exatamente para tirá-lo dali. Na sequencia, brigaram e Gilberto o demitiu. Seguiram-se brigas violentas através dos dois jornais – A GAZETA – de Gilberto e – O TRABALHISTA – de Plínio. Gilberto mandou empastelar O TRABALHISTA e prender Plínio.

Em 1960, nas eleições presidenciais, Gilberto apoiou Lott e Plínio apoiou Janio. Lott venceu no estado, mas Janio venceu em Manaus.

Em 1961, Manaus voltou a eleger diretamente seu prefeito. Plínio foi candidato disputando com Josué Cláudio de Souza apoiado por Gilberto. Josué venceu por pequena margem de votos.

Em 1962, quando tudo parecia caminhar para um novo confronto entre Plínio e Gilberto, eis que João Goulart, Presidente da República e líder maior do PTB, chamou o deputado federal Arthur Virgílio e mandou que ele viesse a Manaus trazendo uma carta dirigida aos dois – Plínio e Gilberto – para que acabassem com a briga e fossem a Brasília para selar a paz. Decisão de Jango: Plínio era o candidato do PTB ao Governo e teria o apoio de Gilberto. Houve um jantar entre os dois na casa do Dr. Milton Nogueira Marques, respeitável tabelião de Manaus, casado com D. Olga, irmã do dep. Arthur. Em seguida, ocorreram reuniões em Brasília e Gilberto na volta, após uma pesquisa (já existia disso naquela época), anunciou a paz na família trabalhista e Plínio era o seu candidato ao Governo com Antóvila e Arthur para o Senado. A campanha foi tumultuada e partidários do PTB, com apoio de policiais militares a paisana, acabaram com um comício da oposição em Educandos. O general comandante em Manaus, Moniz de Aragão, mandou tropas federais para garantir os próximos comícios da oposição. Gilberto queixou-se a Jango que transferiu o General Aragão.

Ao final, a chapa do PTB foi amplamente vitoriosa e Plínio voltou ao Governo.

E Gilberto foi eleito deputado federal pelo Território Federal de Rio Branco (depois Roraima).

Em 1964, com a derrubada de João Goulart e ascensão dos militares ao poder, Gilberto foi cassado numa das primeiras listas, exatamente pela interferência do general Moniz de Aragão, que era membro do Alto Comando do Exército. Nos últimos dias do Ato Institucional nº 2, Plínio Coelho, também, foi cassado numa manobra feita pelos seus adversários locais onde a UDN entrou com a inteligência e esperteza e o PSD com o dinheiro.

Em 1982, passados os 18 anos do regime militar, Gilberto Mestrinho volta nos braços do povo e retoma a história da GRANDE FAMÍLIA.

Amazonino Mendes era o maior empreiteiro da COHAB-AM na construção de casas populares na Cidade Nova e quando Gilberto foi governador em 1958 ele era líder estudantil secundarista e o apoiava.

Na campanha de 82 era ele quem arrecadava recursos para a campanha do Governo que tinha Josué Filho como candidato. Passou a se encontrar com Gilberto às escondidas e, também, alimentou o caixa da campanha da oposição, sendo decisivo nos últimos momentos.

Quando começou a apuração e Gilberto disparou, Amazonino virou o chefe do jurídico do PMDB causando perplexidade nas hostes do Governo, pois até dias antes ele era figura de proa da campanha de Josué Filho.

Em 1983, Gilberto nomeia Amazonino como prefeito de Manaus e a história da “GRANDE FAMILIA” recomeça.

Manoel Ribeiro era o vice de Gilberto e tratado no seio do poder como “O PRÓXIMO”.

Em 1985, as eleições para prefeito das capitais foram restabelecidas e os que estavam no exercício do cargo ficaram inelegíveis. Gilberto indicou Manoel Ribeiro que apoiado, inclusive, por Amazonino elegeu-se com ampla margem.

Em 1986, Gilberto indica Amazonino para ser seu candidato ao Governo e acontece um racha no PMDB. Artur Neto, Beth Azize, Felix Valois e Mário Frota saem, vão para o PSB, fundam o MUDA AMAZONAS e disputam as eleições. Amazonino é eleito Governador e são eleitos senadores Fabio Lucena e De Carli.


A GRANDE FAMÍLIA entra na terceira geração.

A partir de 1987, Gilberto passa a fazer com Amazonino o que Plínio Coelho fizera consigo trinta anos antes. Consegue manter o seu Secretário de Fazenda, Ozias Monteiro, e tinha, mesmo morando no Rio de Janeiro, o controle de tudo no Governo. Além disso, mantinha linha direta com Manoel Ribeiro, prefeito de Manaus.


Amazonino vivia incomodado com isso. Decidiu, então, criar seu grupo político e começa a se descolar de Gilberto. Primeiro sai do PMDB com seu grupo e vai para o PDC. Depois, provoca uma briga com Manoel Ribeiro e intervém na Prefeitura de Manaus, nomeando interventor Alfredo Nascimento. Radicaliza com o movimento dos trabalhadores da saúde e estica uma greve por quatro meses.

É nesse quadro que Gilberto se lança candidato à Prefeito de Manaus tendo Josué Filho como vice. E logo anuncia que ficaria na Prefeitura só o tempo permitido já que era candidato a Governador em 1990. Pela oposição o principal candidato é Arthur Neto. Não havia segundo turno e Gilberto estimula outros candidatos como Nonato Oliveira para dividir oposição. Mesmo assim Arthur vence Gilberto.

Amazonino, então, retoma o controle da situação. Troca o Secretário de Fazenda. Tira Ozias e coloca Alfredo Nascimento. Robustece o PDC com a eleição de muitos prefeitos no interior e adesão de deputados estaduais. Em 89, apoia Collor.

Em 1990, Gilberto muda-se para Manaus, instala escritório político e começa a receber lideranças do interior. Amazonino busca um candidato a governador. Primeiro, o jornalista Umberto Calderaro Filho, dono de A CRÍTICA,  que inicialmente empolgou-se com a ideia para em seguida ter uma briga com Amazonino por sentir-se traído. Depois, Mário Frota.

Só que para ser candidato ao Senado, Amazonino teve que largar o Governo, assumindo Vivaldo Frota. Seu poder de fogo diminuiu.

Por outro lado, Gilberto era perspectiva de poder já que a oposição não tinha um nome de peso para enfrentá-lo. Seu candidato ao senado era o deputado federal Ézio Ferreira.

Seguindo a tradição Gilberto e Amazonino fizeram as pazes e um apoiou o outro. Ézio foi candidato à reeleição e Mário Frota manteve a sua candidatura, mas sem apoio de Amazonino.

Os dois – Gilberto e Amazonino – foram eleitos.

Amazonino assumiu o Senado pensando em voltar ao Governo do Estado em 1994. Como senador articulou-se para isso, conseguindo nomear Alfredo Nascimento para a SUFRAMA. Em 1992, foi candidato a prefeito, tendo Eduardo Braga como vice e derrotando José Dutra, candidato de Gilberto e Arthur.

Em 1994, Gilberto pretendia lançar seu Secretário de Fazenda, Sérgio Cardoso, ao Governo do Estado, mas o desabamento da cobertura do Sambódromo fez seus planos irem junto. E aí, mais uma vez, a tradição foi seguida. Gilberto retirou a candidatura de Sérgio Cardoso e o PMDB disputou as eleições com uma chapa camarão, ou seja, sem candidato ao Governo. Claro que tudo isso foi negociado entre Amazonino e Gilberto que assegurou a não apuração das responsabilidades pelo desabamento, o que de fato aconteceu.

Amazonino passou a Prefeitura de Manaus para Eduardo Braga, a quem prometeu que seria seu candidato ao Governo em 1998, candidatou-se ao Governo e foi eleito.

Em 1996, Gilberto lança-se candidato a prefeito de Manaus, mas Amazonino prefere lançar a chapa Alfredo Nascimento-Omar Aziz que apoiada também por Eduardo Braga vence as eleições.

Em 1997, com ajuda de Amazonino foi aprovada a reeleição para os cargos executivos.

Em 1998, Amazonino saiu candidato à reeleição e negou-se a cumprir o acordo com Eduardo Braga que, então, deixou o grupo e foi ser o candidato de oposição. A disputa ficou entre criador e criatura. Amazonino foi reeleito. Gilberto estava fora, mas Amazonino o buscou para que fosse seu candidato ao senado e o elegeu com os votos dos mais distantes municípios.

Em 2000, Eduardo tenta eleger-se prefeito de Manaus, mas a chapa Alfredo Nascimento/Omar Aziz com o apoio de Amazonino é reeleita.

Em 2002, criador e criatura se reencontram. Amazonino fica no cargo e vai buscar Eduardo Braga para ser seu candidato ao Governo. Primeiro indicou José Melo como vice e no dia da convenção trocou por Omar Aziz.

A GRANDE FAMÍLIA chega a quarta geração.

Em 2004, Eduardo Braga fez de conta que apoiava Amazonino que passa para o segundo turno, mas perde a eleição para Serafim Corrêa.

Em 2005, Amazonino funda um jornal, o CORREIO AMAZONENSE e passa a fazer oposição a Eduardo e Serafim visando às eleições de 2006.

Em 2006, Amazonino e Eduardo se enfrentam e a criatura vence o criador.

Em 2008, Eduardo apoia Omar para prefeito, mas Amazonino e Serafim é que foram ao segundo turno quando Eduardo e Omar apoiaram Amazonino.

Em 2010, Eduardo lança a chapa Omar/Melo que vence Alfredo Nascimento. Além disso, Eduardo se elege Senador e leva consigo Vanessa.

A GRANDE FAMÍLIA chega à quinta geração.

Em 2011, Omar assume e mantém os principais secretários de Eduardo que continua interferindo no governo, inclusive, com linha direta com Isper Abrahim, secretário de Fazenda.


Em 2012, Omar lança Rebeca Garcia como sua candidata à prefeitura de Manaus e Eduardo “derruba” a candidatura impondo o nome de Vanessa Grazziotin que perde a eleição para Artur Neto.

Em 2013, Omar começa a se libertar dos secretários de Eduardo e substitui Isper Abrahim por Afonso Lobo.

Diante desse histórico, em 2014, não se pode prever o que vai acontecer, pois com essa história da GRANDE FAMÍLIA tudo é possível.

A HISTÓRIA DO PODER POLÍTICO NO AMAZONAS

Fora um hiato de 20 anos, em que o governo foi fatiado pelos militares, o poder político no Amazonas vem sendo  comandado por uma verdadeira familia. Quem tem mais idade sabe  como foi constituída nos anos 50, quando Plinio Coelho derrotou Álvaro Maia e tratou de fazer seu sucessor, Gilberto Mestrinho. Ao voltar do exilio nos anos oitenta, Gilberto preconizou que seu grupo politico ficaria no poder por 20 anos. Errou. Está há mais de 30: fez Amazonino Mendes, que fez Eduardo Braga que fez Omar Aziz.

O histórico dos últimos 58 anos - a começar por Plínio - que passou o bastão para Gilberto num clima de cumplicidade, que é o forte de toda família unida - indica que o processo sucessório do próximo ano pode reaproximar os sobreviventes - Amazonino Mendes, considerado o filho político de Gilberto e neto de Plinio, como os bisnetos Eduardo Braga, Alfredo Nascimento e o tataraneto Omar Aziz. Ou a família acaba...

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MA MAMAR VOLTA A GOVERNAR!
 
A eleição suplementar acabou. E, com ela, o retorno de um zumbi, cercado de urubus por todos os lados. Sim, caros leitores e únicos amigos, Amazonino voltou! A roda do destino trouxe ele de volta! A abelha voltou!  
 
E nós, amazonenses, merecemos esta figura. Afinal, ele já foi quase tudo por aqui: prefeito (três vezes), governador (duas vezes), senador, empresário, síndico, vendedor de bananas, apontador de jogo do bicho etc etc etc.
 
Ama Mamar disputou este segundo turno com um de seus filhos prediletos: Eduardo Braga, oCadeirudo, que também já foi quase tudo por estas paragens: vereador, deputado estadual, deputado federal, prefeito, governador (duas vezes), senador, empresário, síndico etc etc etc.
 
E o mais interessante, é que o criador evitou um confronto direto com a criatura neste segundo turno. Ele faltou ao debate na TV. Também pudera, Ama Mamar é adepto daquela máxima: o bom filho a casa torna. Foi assim com Omar Aziz, Pauderney Avelino, Artur Neto, Alfredo Nascimento, Sabino Castelo Branco, Átila Lins, Ronaldo Tiradentes e outros.
 
Mas nem tudo está perdido. O eleitor amazonense está acordando de seu estado letárgico. Agora ele está numa letargia lúcida. Por exemplo, 603.914 amazonenses não foram votar. A Sra. Abstençãocausou furor entre os políticos. Foi a maior da história das eleições no Amazonas.
 
No domingo, aproximadamente 1.734.972 amazonenses compareceram às urnas. E duas figuras de terno e gravata que não foram convidadas surpreenderam: os Srs. Brancos (70.441) e Nulos(342.280).  A votação de Ama Mamar (782.933) foi menor do que a soma da Sra. Abstenção e dos Srs. Brancos e Nulos (1.016.635). E a votação do Cadeirudo foi menor do que a da Sra. Abstenção (603.914).
 
Em outras palavras, aproximadamente 50% dos eleitores amazonenses (1.016.635) protestaram contra as candidaturas do Criador e da Criatura, cujo grupo político está no poder neste Estado há 35 anos. Por isso, estamos assim, cercados de miséria, falta de segurança pública, corrupção, falta de saúde, tráfico de drogas etc etc etc.
 
E não adianta chorar. Talvez eles continuem por aqui por mais algumas décadas. Afinal, eles sempre dão um jeitinho de brincar com a vaidade de seus opositores. Foi assim com Praciano, Marcelo Ramos, Serafim Corrêa etc etc etc.
 
 
Abraços